Riscos Psicossociais: Compreendendo e Enfrentando os Desafios no Ambiente de Trabalho

Introdução

Os riscos psicossociais representam um conjunto de fatores relacionados ao trabalho que podem afetar significativamente a saúde mental e física dos trabalhadores. Estes riscos emergem da interação entre as condições de trabalho, o ambiente organizacional e as características individuais dos colaboradores. Com o mundo do trabalho em constante transformação, principalmente após as mudanças aceleradas pela pandemia, tornou-se mais urgente que nunca compreender e gerenciar adequadamente estes riscos.

Este artigo apresenta uma análise abrangente dos riscos psicossociais, explorando sua definição, os principais fatores que os constituem, seus impactos na saúde dos trabalhadores e nas organizações, bem como estratégias eficazes para sua prevenção e gestão. 

O que são Riscos Psicossociais? 

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os riscos psicossociais referem-se a "interações entre o ambiente de trabalho, o conteúdo do trabalho, as condições organizacionais e as capacidades, necessidades, cultura e considerações pessoais dos trabalhadores que podem, através de percepções e experiências, influenciar a saúde, o desempenho e a satisfação no trabalho".

De forma mais simples, são aspectos do planejamento, organização e gestão do trabalho, além do contexto social e ambiental, que têm potencial para causar danos psicológicos, sociais ou físicos aos trabalhadores. 

Principais Fatores de Risco Psicossocial

1. Relacionados à Organização do Trabalho 

  • Sobrecarga de trabalho: Excesso de tarefas ou responsabilidades além da capacidade do trabalhador
  • Pressão por produtividade: Metas irrealistas ou excessivamente desafiadoras
  • Falta de autonomia: Pouca liberdade para tomar decisões sobre como realizar o trabalho
  • Trabalho monótono ou sem sentido: Tarefas repetitivas que não desafiam ou estimulam o trabalhador
2. Relacionados às Relações Sociais

  • Assédio moral: Conduta abusiva que atenta contra a dignidade ou integridade psíquica do trabalhador
  • Assédio sexual: Comportamento de natureza sexual indesejado que viola a dignidade da pessoa
  • Comunicação deficiente: Falta de clareza ou transparência na comunicação organizacional
  • Falta de apoio social: Ausência de suporte por parte de colegas e superiores
3. Relacionados ao Ambiente de Trabalho

  • Condições físicas inadequadas: Ruído excessivo, má iluminação, temperatura inadequada
  • Insegurança no emprego: Incerteza quanto à continuidade no posto de trabalho
  • Conflito trabalho-família: Dificuldade em conciliar responsabilidades profissionais e pessoais
  • Violência no trabalho: Agressões físicas ou verbais no ambiente laboral
4. Relacionados à Gestão Organizacional

  • Cultura organizacional tóxica: Valores e práticas que promovem competição destrutiva
  • Liderança inadequada: Gestores sem preparo para liderar equipes
  • Falta de reconhecimento: Ausência de valorização do esforço e realizações dos trabalhadores
  • Injustiça organizacional: Percepção de tratamento desigual ou favoritismo
5. Novos Riscos Emergentes

  • Tecnologia invasiva: Ferramentas de monitoramento constante que provocam sensação de vigilância
  • Trabalho remoto inadequado: Ausência de limites entre vida pessoal e profissional
  • Hiperconectividade: Expectativa de disponibilidade permanente
  • Precarização do trabalho: Contratos temporários, instabilidade, baixa remuneração

Impactos dos Riscos Psicossociais

Consequências para os Trabalhadores

  • Saúde física: Distúrbios musculoesqueléticos, doenças cardiovasculares, problemas digestivos
  • Saúde mental: Estresse crônico, ansiedade, depressão, síndrome de burnout
  • Comportamentais: Abuso de substâncias, distúrbios do sono, comportamentos alimentares inadequados
  • Sociais: Isolamento, conflitos interpessoais, deterioração das relações familiares
Consequências para as Organizações

  • Redução da produtividade: Diminuição do desempenho individual e coletivo
  • Aumento do absenteísmo: Faltas por problemas de saúde relacionados ao trabalho
  • Presenteísmo: Presença física, mas com redução significativa da capacidade produtiva
  • Rotatividade elevada: Aumento nos pedidos de demissão e custos com recrutamento
  • Deterioração do clima organizacional: Ambiente de trabalho negativo e desmotivador
  • Prejuízos à imagem da empresa: Percepção externa negativa da organização
  • Custos com saúde: Aumento dos gastos com planos de saúde e afastamentos
  • Custos com litígios: Processos trabalhistas e indenizações

Marco Legal e Normativo

Em diversos países, existem legislações específicas que obrigam as empresas a avaliar e prevenir os riscos psicossociais. A título de exemplo: 

  • No Brasil, as Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do Trabalho, especialmente a NR-17 sobre Ergonomia, abordam indiretamente aspectos psicossociais.
  • A Convenção 155 da OIT, ratificada por diversos países, estabelece a obrigação de desenvolver políticas nacionais de segurança e saúde no trabalho que incluam os fatores psicossociais.
  • Na União Europeia, a Diretiva-Quadro 89/391/CEE sobre saúde e segurança no trabalho inclui explicitamente a obrigação de avaliar todos os riscos, incluindo os psicossociais.
Além disso, diversos órgãos internacionais têm publicado diretrizes e recomendações para a gestão desses riscos, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional (NIOSH) dos EUA e a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA). 

Avaliação e Gestão dos Riscos Psicossociais

Avaliação dos Riscos

A avaliação dos riscos psicossociais deve ser um processo sistemático que inclui: 

  • Identificação dos fatores de risco: Levantamento das condições de trabalho que podem representar riscos
  • Determinação dos trabalhadores expostos: Identificação dos grupos mais vulneráveis
  • Estimativa da magnitude do risco: Análise da probabilidade e gravidade dos danos potenciais
  • Documentação dos resultados: Registro formal da avaliação realizada
Para realizar esta avaliação, podem ser utilizados diversos métodos complementares: 

  • Questionários validados: COPSOQ (Copenhagen Psychosocial Questionnaire), HSE-IT (Health and Safety Executive Indicator Tool)
  • Entrevistas individuais ou grupais: Coleta de informações qualitativas
  • Observação direta: Análise in loco das condições de trabalho
  • Análise documental: Exame de registros de absenteísmo, rotatividade, acidentes, etc.
Medidas de Prevenção e Controle

Intervenções Primárias (focadas na organização)

  • Redesenho do trabalho: Ajuste das demandas e aumento da autonomia
  • Políticas organizacionais: Implementação de políticas de prevenção ao assédio e discriminação
  • Melhoria da comunicação: Estabelecimento de canais de comunicação eficazes
  • Formação de lideranças: Capacitação de gestores em competências socioemocionais
  • Participação dos trabalhadores: Envolvimento dos colaboradores nas decisões
Intervenções Secundárias (focadas no indivíduo

  • Programas de gerenciamento do estresse: Treinamentos sobre técnicas de enfrentamento
  • Promoção de estilos de vida saudáveis: Incentivo à atividade física e alimentação adequada
  • Desenvolvimento de competências: Capacitação contínua para melhorar a adaptação às demandas
  • Suporte social: Criação de grupos de apoio e mentoria
Intervenções Terciárias (focadas na recuperação)

  • Programas de assistência ao empregado: Aconselhamento e apoio psicológico
  • Reintegração gradual: Retorno progressivo após afastamentos por problemas de saúde mental
  • Reabilitação profissional: Adaptação das condições de trabalho para trabalhadores com problemas de saúde 

Experiências Bem-Sucedidas 

Várias organizações ao redor do mundo têm implementado programas eficazes de gestão de riscos psicossociais. Alguns exemplos:

 

  • A empresa sueca Volvo introduziu um sistema de produção baseado em equipes autônomas, aumentando a autonomia e o controle dos trabalhadores sobre seu trabalho.
  • A multinacional Google implementou o programa "Search Inside Yourself", focado em mindfulness e inteligência emocional para reduzir o estresse e melhorar o bem-estar.
  • A empresa brasileira Natura desenvolveu um programa abrangente de qualidade de vida que inclui suporte psicológico, flexibilidade de horário e iniciativas de equilíbrio trabalho-família. 

Conclusão

Os riscos psicossociais representam um desafio significativo para o mundo do trabalho contemporâneo. Sua gestão adequada não é apenas uma obrigação legal em muitos países, mas também uma estratégia inteligente para garantir a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, bem como a produtividade e sustentabilidade das organizações.
A abordagem preventiva, baseada na identificação precoce dos fatores de risco e na implementação de medidas adequadas de controle, é fundamental para criar ambientes de trabalho saudáveis e produtivos. Isso requer um compromisso conjunto de empregadores, trabalhadores, profissionais de saúde ocupacional e autoridades reguladoras.
Ao reconhecer a importância dos aspectos psicossociais no trabalho e adotar estratégias eficazes para sua gestão, as organizações não apenas cumprem suas responsabilidades legais e éticas, mas também investem no seu recurso mais valioso: as pessoas. 

Referências 

  1. Organização Internacional do Trabalho (OIT). (2016). Riscos psicossociais e estresse no trabalho.
  2. Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA). (2018). Guia prático para a gestão dos riscos psicossociais.
  3. World Health Organization. (2019). Mental health in the workplace.
  4. National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH). (2020). Workplace stress and occupational health.
  5. Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound). (2021). Sexto inquérito europeu sobre as condições de trabalho. 

Cynthia Ferreira Costa

Engenheira de Saúde e Segurança - 07/05/2025

 

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