NR17 e AET: Prevenção de LER/DORT através da Ergonomia

A Realidade das Lesões Ocupacionais no Brasil

As Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) constituem atualmente a principal causa de afastamento laboral no Brasil. De acordo com dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), essas condições representam mais de 30% dos benefícios por incapacidade temporária concedidos anualmente, evidenciando a magnitude do problema ergonômico enfrentado pelas organizações brasileiras. 

As estatísticas revelam que aproximadamente 67% dos afastamentos do trabalho estão relacionados a problemas ergonômicos, gerando custos diretos e indiretos que ultrapassam R$ 70 bilhões anuais para as empresas. Cada caso de LER/DORT resulta em uma média de 180 dias de afastamento, com uma taxa de reincidência de 40% quando o trabalhador retorna sem que as correções ergonômicas adequadas tenham sido implementadas no ambiente de trabalho.

As principais causas identificadas incluem movimentos repetitivos executados sem pausas adequadas, posturas inadequadas mantidas por períodos prolongados, sobrecarga física em atividades manuais, ambientes de trabalho inadequados em termos de mobiliário e iluminação, pressão excessiva por produtividade sem consideração dos aspectos ergonômicos e ausência de treinamento adequado sobre posturas corretas.

Fundamentos da NR17

A Norma Regulamentadora 17, que trata da Ergonomia, estabelece parâmetros fundamentais que permitem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores. Seu escopo abrange aspectos físicos como levantamento, transporte e descarga de materiais, mobiliário e equipamentos dos postos de trabalho, condições ambientais relacionadas à temperatura, ruído e iluminação, além da organização do trabalho. 

A norma também contempla aspectos cognitivos, incluindo o processamento de informações, tomada de decisões, carga mental de trabalho e interfaces homem-máquina. Os aspectos organizacionais também são considerados, englobando ritmo de trabalho, pausas e rodízios, jornada de trabalho e conteúdo das tarefas. 

As recentes atualizações da NR17 trouxeram importantes mudanças, ampliando o conceito de ergonomia para além dos aspectos meramente físicos. A revisão incluiu a análise cognitiva e organizacional, estabeleceu a exigência de Análise Ergonômica do Trabalho para situações específicas, determinou a participação dos trabalhadores no processo de análise e promoveu a integração com outras normas de Segurança e Saúde no Trabalho.

Análise Ergonômica do Trabalho: Metodologia e Aplicação

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) deve ser elaborada em situações específicas determinadas pela NR17. Esta obrigatoriedade surge quando há registro de LER/DORT nos últimos dois anos, existência de afastamento por transtornos musculoesqueléticos, identificação de situações de risco na análise preliminar, solicitação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), dos trabalhadores ou sindicatos, ou recomendação em perícias ou inspeções. 

A estrutura de uma AET completa inicia-se com a análise da demanda, onde se define claramente o problema através da identificação das queixas e sintomas relatados, análise de indicadores de saúde como afastamentos e Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs), levantamento de reclamações e sugestões, e mapeamento de postos críticos. A contextualização organizacional também é fundamental, abrangendo o processo produtivo e fluxo de trabalho, organograma e hierarquia, políticas de SST existentes e histórico de intervenções ergonômicas anteriores. 

A análise da tarefa envolve a documentação oficial das atividades, incluindo descrição formal das atividades, procedimentos operacionais padrão, normas e instruções de trabalho, e metas e indicadores de desempenho. As condições técnicas também devem ser avaliadas, considerando equipamentos e ferramentas utilizados, layout e dimensões do posto, características do ambiente físico e sistemas de informação e controle. 

A análise da atividade representa o momento de observação sistemática das estratégias reais adotadas pelos trabalhadores, identificando variabilidades no processo, adaptações e improvisações, dificuldades e constrangimentos. Durante esta fase, são realizadas medições e registros de forças exercidas e posturas adotadas, frequência e duração de movimentos, pausas espontâneas e recuperação, além de indicadores fisiológicos de sobrecarga. 

O diagnóstico ergonômico consolida a identificação de fatores de risco biomecânicos relacionados à força, repetitividade e posturas, fatores ambientais como temperatura, ruído e iluminação, aspectos organizacionais incluindo ritmo, pausas e pressão, e elementos psicossociais relacionados ao relacionamento e reconhecimento. A correlação entre saúde e trabalho é estabelecida através da análise de sintomas relatados versus exposições identificadas, prevalência de problemas por setor ou função, identificação de grupos mais vulneráveis e análise de tendências temporais. 

As recomendações e implementação seguem uma hierarquia de soluções, priorizando a eliminação de riscos na fonte, controles de engenharia, controles administrativos e, por último, equipamentos de proteção individual. O plano de implementação deve incluir cronograma detalhado de ações, recursos necessários, responsabilidades definidas e indicadores de acompanhamento.

Gestão Digital e Integração Tecnológica

A gestão moderna da ergonomia tem se beneficiado significativamente da digitalização dos processos. A plataforma eSocial Brasil oferece uma solução completa para o gerenciamento de riscos ergonômicos através de três ferramentas integradas: o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), a Análise Ergonômica Preliminar (AEP) e a Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Essa integração
permite um inventário de riscos ergonômicos automatizado, com catalogação sistemática de postos críticos, mapeamento de movimentos repetitivos, identificação de sobrecarga postural e registro detalhado de fatores organizacionais. 

A avaliação quantitativa através da integração PGR, AEP e AET na eSocial Brasil tem uma abordagem integrada permitindo que desde a análise preliminar até a análise detalhada sejam conduzidas de forma sistemática e documentada dentro de uma única plataforma. 

O Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) integrado à plataforma eSocial Brasil permite personalização para ergonomia, com dados alimentados diretamente pelas análises do PGR, AEP e AET, incluindo exames específicos por exposição, com anamnese ocupacional detalhada, exame físico focado no sistema musculoesquelético, avaliações funcionais específicas e acompanhamento de casos sintomáticos. O controle de periodicidade permite redução de intervalos para trabalhadores expostos, alertas automáticos de vencimento, histórico longitudinal por trabalhador e relatórios de tendências.

Programas Complementares

O programa de ginástica laboral digital representa uma implementação integrada com planejamento personalizado, incluindo exercícios específicos por função, duração adequada à jornada, frequência baseada na exposição e progressão individualizada. O controle de participação é facilitado através de registro digital de presença, acompanhamento individual, relatórios de adesão e indicadores de eficácia. 

Os treinamentos ergonômicos podem ser estruturados em módulos específicos, começando com conscientização básica sobre princípios de ergonomia, identificação de riscos, posturas corretas e exercícios de alívio. A capacitação avançada inclui análise de posto de trabalho, técnicas de levantamento, organização pessoal e prevenção ativa. A certificação digital proporciona comprovação de capacitação através de certificados com código QR, histórico completo por trabalhador, controle de validade e renovação automática.

Retorno sobre Investimento

Os benefícios mensuráveis da implementação adequada de programas ergonômicos incluem redução significativa de custos diretos relacionados a afastamentos, com redução de até 60% em casos de LER/DORT, economia em despesas médicas com tratamentos, diminuição de ações trabalhistas e menor necessidade de contratações temporárias para substituições.

 

Os ganhos de produtividade são evidentes através da melhoria de 15 a 25% na performance, redução de erros e retrabalho, diminuição de faltas por problemas de saúde e aumento da satisfação e motivação dos trabalhadores. Cases de sucesso demonstram resultados expressivos, como empresas que alcançaram redução de 70% nos afastamentos, economia de milhões de reais anuais, retorno sobre investimento superior a 400% em 18 meses e melhoria significativa na produtividade.

Tendências Futuras

As tecnologias emergentes estão revolucionando a área de ergonomia. A inteligência artificial permite análise preditiva para identificação precoce de riscos, personalização de intervenções, otimização de pausas e rodízios, e previsão de lesões. A visão computacional possibilita análise postural automatizada, detecção em tempo real de riscos, feedback imediato ao trabalhador e monitoramento contínuo. 

A realidade virtual está sendo utilizada para treinamentos imersivos, permitindo simulação de situações reais, prática segura de técnicas, gamificação do aprendizado e avaliação objetiva de performance. No design ergonômico, a realidade virtual permite prototipagem virtual de postos, teste antes da implementação, validação com usuários reais e otimização contínua. 

A Ergonomia 4.0 representa a integração total através de sensores vestíveis para monitoramento, feedback em tempo real, ajustes automáticos de equipamentos e prevenção proativa personalizada.

Implementação Estratégica

A implementação eficaz de um programa ergonômico deve seguir fases bem definidas. O diagnóstico inicial, com duração aproximada de 30 dias, envolve análise preliminar dos indicadores existentes, mapeamento de postos críticos, levantamento de queixas e sintomas, e priorização de áreas para AET.

 

A avaliação detalhada, realizada em aproximadamente 45 dias, inclui execução das AETs priorizadas, aplicação de métodos quantitativos, análise de correlação saúde-trabalho e elaboração de diagnóstico ergonômico. O planejamento, em cerca de 15 dias, contempla definição de soluções técnicas, elaboração de cronograma, orçamentação de investimentos e aprovação da diretoria. 

A implementação, com duração aproximada de 90 dias, abrange execução das melhorias planejadas, treinamento dos trabalhadores, implantação de controles e monitoramento inicial. O monitoramento contínuo garante acompanhamento de indicadores, avaliação de eficácia, ajustes necessários e melhoria contínua.

Conclusão

A gestão eficaz da ergonomia através da NR17 e AET representa um dos investimentos mais estratégicos em Segurança e Saúde no Trabalho. Os benefícios transcendem o simples cumprimento legal, impactando diretamente na produtividade, qualidade, custos e sustentabilidade organizacional. 

A digitalização desses processos através de plataformas especializadas como a eSocial Brasil torna a gestão de riscos ergonômicos mais eficiente, integrada e baseada em dados confiáveis. A automação proporcionada por essa plataforma, desde a identificação de riscos até o acompanhamento de resultados, permite que profissionais de SST foquem no que realmente importa: criar ambientes de trabalho que promovam saúde, bem-estar e alta performance. 

O futuro da ergonomia é digital, personalizado e preventivo. Organizações que abraçarem essa transformação através de soluções como a eSocial Brasil para gerenciamento de riscos ergonômicos estarão melhor posicionadas para enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais competitivo e de uma força de trabalho cada vez mais consciente de seus direitos e necessidades. Para consultorias de SST e empresas comprometidas com a excelência em saúde ocupacional, dominar as ferramentas digitais de gestão ergonômica oferecidas por plataformas especializadas não é mais opcional, mas fundamental para o sucesso sustentável do negócio.

Cynthia Ferreira Costa

Engenheira de Saúde e Segurança - 05/06/2025

 

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